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13 DE MAIO NO ENGENHO DO ESQUECIMENTO.
Em 13 de maio de 1888, na cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro, Corte Imperial do Brasil, nos suntuosos
e lusos salões do Palácio do Passo Imperial, SAI a princesa Isabel,
da Casa de Orleans e Bragança, assina a tão esperada, sonhada e é
aclamada juntamente com a lei de Redentora do Império do Brasil. Faz
122 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, 122 anos que pessoas
como nós, apenas por possuírem a pele escura foram escravizadas.
122 anos, em minha opinião é muito pouco tempo, porém percebo que
na sociedade que vivemos este fato histórico já caiu no vácuo do
esquecimento.
Desconheço qualquer manifestação em
comemoração a lembrança deste dia, seja na escola, seja na
sociedade em geral. Talvez hoje se perguntasse a um aluno do Ensino
Fundamental ou Médio, o que é ou quem assinou a Lei Áurea, não me
causaria espanto a falta de conhecimento e desinteresse da classe
discente. Justamente por não ter participado de alguma cerimônia ou
comemoração à esta data importante na História e desenvolvimento
deste país, decidi eu mesmo, Lord Leonardo Siegfried Cezìno de
York, prestar uma singela homenagem à um povo, que a liberdade seria
apenas uma simples escusa e paliativo pela mancha vergonhosa que
estampava a nação.
O povo africano mereceria uma coroa de louros
por sua humildade, mansidão, inocência, bravura, vigor e lutas.
Sim, pois foram os braços fortes e brilhantes da pele de ébano que
doaram seus anos de vida, deram seus filhos, derramaram seu sangue,
choraram de tristeza de alegria pelo futuro e grandeza deste país.
Acredito que minha homenagem seja ínfima diante das honrarias que
esse povo tem por direito. Mas não posso cônscio, e como defensor
da Educação deixar esse fato, esta data ser esquecida. Gostaria de
deixar bem claro que, apesar de ser intitulado como lorde, ser
monarquista e fazer parte de movimentos e grupos pró-monárquicos,
tampouco me imagino como escravocrata. Assim como nós humanos
erramos, a Instituição a qual é composta e dirigida por humanos
também erra.
Fico a pensar no sofrimento, angústia e
desprezo que um povo tão forte, porém inocente e submisso, sentiu
na pele brilhante como o âmbar a fustigação de um regime que
bastava ser de uma cor diferente, já se era escravo. Quantos
morreram trazidos nas naus malditas para cá, quantas mães perderam
seus filhos, famílias e familiares dilapidados, rebeliões... suor,
sangue e terra desse povo de pele escura e de viril formosura,
formaram uma sólida e consistente argamassa que ao meu ver (pois não
vejo somente pelo lado negativo), serviu de tijolos para a edificação
do progresso, riqueza e glória de um país que já foi Império!
Império, Império do Brasil! Foram os escravos que através da
anatomia vigorosa e hercúlea de seus corpos construíram pontes,
estradas e ferrovias que levavam e traziam o progresso do Oiapoque ao
Chuí deste imenso “continente”; adornavam seus corpos, ombros,
mãos e dedos com duas das maiores riquezas do Brasil: o café e a
cana-de-açúcar. Aos ex-escravos, ao povo africano de pele como
petróleo, devemos, devemos muito mesmo, é uma dívida interna e
eterna que temos com nós mesmos. Devemos nossa gratidão e sobre
tudo consideração, seria o mínimo que faríamos por estas pessoas,
relembrando, silenciando ou comemorando a data da Abolição da
Escravatura.
Este mesmo mês de maio do ano em curso em um
passeio de trem com 2 amigos meus, vimo-nos curiosos por um rapaz
mulato que passa o vagão com um porte garboso, porém trajando-se de
maneira humilde, não nos deixou de chamar atenção pela sua
altivez, ar de empáfia e olhar penetrante. Um dos meus amigos
comenta: “não consigo entender o
por quê de os negros, mulatos serem tão orgulhosos e se acharem
donos do pedaço, vejam a maneira
como se senta, parece uma majestade (...)”
meu outro amigo respondeu: “ e o
quê esperavas?! Passaram-se séculos estas criaturas sob o jugo do
chicote e o peso dos alforjes, sendo
humilhados, discriminados, agora é a vez deles. O mínimo que
poderíamos nós a fazer e o que nos compete como gente civilizada é
cumprimentar-lhe de forma cordial e amiga, mostrando também a nossa
consideração por ele e seus descendentes que fizeram um dia a
glória e a mancha desse país (...)”
Estávamos no expresso rumo a uma cidade antes
próspera nos tempos áureos de seus engenhos e canaviais. Parabéns
à primeira cidade do Brasil que reconheceu hediondo erro que é o
cativeiro e desejou repará-lo dando a liberdade a seus cativos.
Parabéns às cidades que ainda conservam seu patrimônio histórico
e cultural, engenhos, museus, etc. assim como a cidade de Ceará
Mirim que apesar da falta de interesse político administrativo e
cultural, ainda mantém alguns de seus canaviais, engenhos e
edifícios como prova palpável e verídica de uma época de ouro,
mas também de muito labor e sofrer. Parabéns a coragem e bravura
daqueles que lutaram pelo fim do trabalho escravo.
Louvores sejam dados aos abolicionistas, aos
senhores de engenho que libertaram muito antes seus trabalhadores do
cativeiro, aos que ao menos se lembram desta data, louvores ao
sangue, suor e lágrimas de um povo para o qual se pensou na
liberdade, mas esqueceu-se do essencial a Educação. Fiz e faço a
minha parte, por mim este povo, esta data, jamais cairão no buraco
negro da ignorância e esquecimento.
Plantei na lavoura da Educação, uma
sementinha de conhecimento para que possa germinar e gerar frutos de
saber àqueles que a este texto irão ler. Viva o 13 de maio! Viva o
povo afro-brasileiro! É uma mistura exótica e intrigante de 3
raças, 3 nações fundidas em uma única chamada BRASIL! Que este
dia e outros importantes na História do Brasil sejam sempre
comemorados, se não ao menos lembrados, comentados. Que a mesma pena
de ouro cravejada de diamantes que SAI a princesa Isabel, assinou a
Lei Áurea, assine também iluminada pelo brilho de seus diamantes; a
abolição da ignorância e esquecimento do Brasil.
Lord Leonardo Siegfried Cezìno de York.